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Segue abaixo os depoimentos. Ou escolha ao lado em "Depoimentos dos Integrantes".

Russia

VIAGEM A RUSSIA - 1996

INTRODUÇÃO


                   Atualmente está sendo muito difícil precisar quantos grupos de dança, que apresentam o folclore gaúcho, existe espalhado pelo Brasil. Todos somos sabedores que esse número é muito grande, porém acredito que muitos podem denominar os melhores, ou aqueles que se destacam por algum motivo. Sabe-se também que não é nada fácil uma invernada ser reconhecida, isso requer muitos anos de dedicação, não só de apresentação em palco, mas também de  ensaios, de pesquisa e de muito trabalho.
                   É justamente por algumas destas qualidade que o grupo adulto do Terra de Bravos CTG foi convidado a representar o Brasil em um festival internacional de folclore. Talvez com o passar dos anos esse feito conquistado por alguns jovens fique no esquecimento de muitos, mas com certeza nossos filhos e netos irão um dia dar seguimento ao nosso trabalho e contar com orgulho o que seus antepassados fizeram.
                   A partir daqui passamos a narrar essa histórica viagem, e somente os que dela participaram poderão medir a emoção que foi estar do outro lado do mundo, mais precisamente na República de Bashkortostan (Rússia), mostrando o que fizemos por muitos anos sem esperar nenhuma “recompensa”. E o que nós chamamos de recompensa, nos dia de hoje, é sentir novamente em outros lugares a receptividade e o calor do público russo que se emocionava ao nos assistir e entre os aplausos, gritos e assobios nos mostravam que vale a pena fazer o que fazemos. Por fim, nos orgulhamos muito de nosso feito e mais ainda por estarmos entrando  para a história do Terra de Bravos CTG.

DELEGAÇÃO BRASILEIRA

Dirigentes:
         Terra de Bravos
         Altair Dornelles de Lima, Liane Lima e Valmor Kniphoff da Cruz;

         C.I.O.F.F.:
         Abegail Gradaschi, Débora Soares e Eugênio Menegás;

         Coreógrafo:
         Pedro Pedroso;

         Dançarinos:
         Paulo Moraes, Daniela Lima, Éverton Kniphoff da Cruz, Roselaine Cristina da Silva, Romero Ritzel, Claudia Dias, Cézar Figueiredo, Ana Molz, Rodrigo Goettems, Andréa Monteiro, Dair Sins, Cilene Reis, Rovani Morales, Sandra Mahl, Rodrigo Goebel, Marise Fredrich, Cezar Reis, Bírtia Pires e Édson Becker;

         Músicos:
         Rodrigo Fernandes, Eduardo Ely, Fernando Eichelmberg, Zoraia dos Santos, Elaine Cristina dos Santos e Antoní dos Santos.


FASE PREPARATÓRIA

         Depois de ter se apresentado em Farroupilha, na Fase Final do X FEGART(outubro de 1995), o grupo de danças adulta do Terra de Bravos CTG passou por um período de férias, retornando as suas atividades no início de fevereiro deste ano de 1996. Ao retornar do merecido descanso o grupo veio cheio de expectativas, e nem imaginavam o que estava por acontecer.
         Como não tínhamos planos de participar de nenhum evento logo no início do ano, passamos a aperfeiçoando nossas danças e a ensinar os novos integrantes.
         No dia 17 de fevereiro, durante um ensaio no Pavilhão Central da Oktoberfest, o patrão Altair - Tio Teco - ao chegar, solicitou um minuto de atenção, pois, queria nos colocar um assunto muito sério. Neste momento passou a ler um ofício que trazia consigo. Em síntese tal documento datado no dia 13 de fevereiro, dizia o seguinte:
“ Cumprimentamos Vossa Senhoria e nesta oportunidade temos o prazer de em nome da Secção Nacional do CIOFF(Conselho Internacional das Organizações de Festivais de Folclore e Artes Tradicionais) - Brasil e da Secção Estadual do Rio Grande do Sul do CIOFF, convidar a invernada de danças do Terra de Bravos CTG, da cidade de Santa Cruz do Sul para representar o Brasil no Festival Internacional de Folclore IZHEVSK/UDMURDIA, na Rússia, no período de 22.07.96 a 28.07.96 devendo o grupo chegar em Moscou no dia 20.07.96 e sair de Moscou no dia 29 ou 30.07.96...”
Este histórico documento veio assinado pelo Sr. Paulo Dutra, Presidente da Secção Estadual do Rio Grande do Sul do CIOFF e Delegado Seccional do CIOFF-Brasil para o RS.
         Aquilo foi como se um bomba tivesse caído sobre nós, pois esperávamos tudo, menos isso. Porém para que isso se concretizasse teríamos de trabalhar muito para pagar nosso deslocamento ida e volta.
         Depois de todos se comprometerem com o patrão ele disse que levaria o documento ao conhecimento da UNISC e, se a reitoria nos desse cobertura confirmaríamos a viagem junto ao CIOFF.
         No dia 13 de março  depois do reitor Vilson Kniphoff da Cruz afirmar que estaria ao lado do CTG no que ele precisasse o  Tio Teco manteve contato com o CIOFF  e confirmou nossa ida. A partir dali começamos a nos preparar para o maior evento de nossas vidas, porém, todos tinham dúvida se realmente tudo aquilo era verdade ou apenas um sonho que acabaria logo em seguida.
         O primeiro passo concreto de nossa viagem, e onde nossos sonhos passaram a se tornar realidade, aconteceu no dia 04 de maio a partir das 14h quando, no auditório da UNISC, recebemos o Sr. Paulo Dutra  e o Sr. Eugênio Menegás. Ambos se deslocaram a Santa Cruz para nos informar tudo sobre o festival, os nossos deveres e direitos e principalmente nos conscientizar de nossa responsabilidade com o país.
         Durante o bate-papo foi perguntado ao senhor Dutra o motivo do nosso grupo ser escolhido. Ele por sua vez disse o seguinte: “...todos os anos vamos ao FEGART e, além dos grupos vencedores escolhemos outros que apresentem aquilo que venha de encontro com o que queremos lá fora. O Terra de Bravos, com sua bela indumentária, sua alegria e seu visual chamou a minha atenção, por isso resolvi dar essa oportunidade a vocês” disse.
         Com certeza aquilo foi um injeção de ânimo em todos que lá estavam, fazendo com que intensificássemos nossos ensaios após as 22h, além de  sábados e domingos.
         No dia 27 de maio fomos à Porto Alegre, no prédio da Polícia Federal, confeccionar nossos passaportes. Como a exigência na apresentação correta dos documentos era rigorosa alguns tiveram de retornar outro dia.
         Mesmo com a proximidade da viagem e da fase regional do XI  FEGART,   alguns não estavam correspondendo como o esperado e isso começou a gerar certos desentendimentos. Na tentativa de corrigir os erros tivemos uma reunião decisiva no dia 02 de junho depois que o patrão passou uma carraspana em todos cobrando responsabilidade.
         No dia 29 de junho durante um ensaio o patrão informou que o festival russo havia sido transferido para o dia 28 de agosto, o que apesar de ficar mais distante nos daria tempo para uma melhor preparação nas danças.
Fomos a Candelária no dia 06 de julho para participar da Fase Regional do FEGART. Depois de ficarmos em segundo colocado, já no ônibus, o patrão deu a triste notícia que o festival havia sido cancelado devido a problemas financeiros com o CIOFF da Rússia. O que nos consolou é que segundo Paulo Dutra ainda este ano iríamos para o exterior, talvez para França, Itália ou Alemanha.
         Aquela semana foi muito dura, porque já havia sido divulgado em Santa Cruz e na região - através da imprensa - que iríamos para o exterior, e explicar que não iríamos mais poderia ser um pouco embaraçoso e desagradável.
         Seis dias depois do cancelamento(dia 12 de julho) chegou um fax para o patrão dando uma contra-ordem. O festival foi confirmado e deveríamos continuar nos preparando.
         No dia 24 de agosto, após um longo período de preparação, onde nossas atenções se voltavam para dois eventos, nos apresentamos no Ginásio Poliesportivo de Santa Cruz do Sul, durante a Fase Macrorregional do XI FEGART. Infelizmente não fomos bem e nos consolamos com a viagem que aconteceria dois dias depois. No mesmo dia ficamos muito apreensivos pois recebemos a notícia da morte da mãe do Pedro Pedroso e não sabíamos se ele nos acompanharia na viagem.                             
 
A VIAGEM
Dia 27.08.96(terça-feira)

Depois de um dia agitado com preparação de bagagens, compras, ensaio de chula e facões (pela manhã) e outros contratempos, nos reunimos em frente ao Parque da Oktoberfest a partir das 16h. Às 17h após muitas fotos, choro e despedidas embarcamos no luxuoso ônibus da Empresa Lajeadense com destino a Passo Fundo onde se integrariam a nossa delegação a dirigente e os intérpretes do CIOFF. Chegamos às 20h e por lá estava sendo realizado o IV Festival Internacional de Folclore de Passo Fundo.
Ao chegarmos no parque onde acontecia o evento, notamos que o pessoal do CIOFF já nos aguardava, e além de sentirmos uma receptividade muito grande ao nos receber, ficamos lisonjeados em saber que até cadeiras haviam sido reservadas para o Terra de Bravos.
Antes de entrarmos no lonão dos espetáculos acompanhamos a passagens dos grupos que posteriormente se apresentariam. Eles retornavam do palco após a abertura. Neste momento tivemos a oportunidade de nos comunicar em com um grupo russo vindo de Moscou que, ao saberem que nós iríamos para sua terra ficaram muito felizes e nos desejaram tudo de bom em seu país.

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Na platéia assistimos as apresentações dos grupos da Grécia, Paraguai, Croácia, Iugoslávia, Rússia e México. Logo após o espetáculo, nos integramos com os participantes do festival no Clube Recreativo Juvenil - local onde realizamos todas as refeições - e após o jantar fomos para o salão principal onde juntamente com os mexicanos iniciamos uma pequena festa com dança e música.
Por volta das 00h10min fomos encaminhados para o 16o Grupo de Engenharia Mecânica, onde ficamos alojados.

Dia 28.08.96(quarta-feira)

Às 8h depois de tomarmos o café da manhã retornamos ao Circo da Cultura e prestigiamos a repetição de alguns shows da noite anterior, de grupos locais e de Minas Gerais.
         Nossa despedida de Passo Fundo seria logo após o almoço no C.R. Juvenil, sendo que antes de partirmos tivemos um reunião com o Paulo Dutra. Neste momento ele nos apresentou a Sra. Abegail Gradaschi (dirigente do CIOFF) e a senhorita Débora Soares que, juntamente com o Sr. Eugênio Menegás que já conhecíamos, seriam nossos intérpretes. 

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Já na frente do clube nos despedimos da Luciane Monteiro, da Shana e do Pablo Müller, que até então estavam nos acompanhando e retornariam de lá para Santa Cruz. Do Sul.
Partimos de Passo Fundo, com destino a São Paulo, às 12h35min.
Às 16h30min paramos na auto-estrada, em um posto de gasolina, para uma esticada e um lanche.
Paramos novamente para fazer um lanche às 21h15min em um restaurante próximo ao Trevo do Atuba em Curitiba.

Dia 29.08.96(quinta-feira)

Chegamos em São Paulo às 3h mas só fomos desembarcar no aeroporto às 5h, pois nossos motoristas se perderam e tiveram que pedir  auxílio em um posto da Polícia Rodoviária Federal(4h35min) que nos escoltou até nosso destino. Entramos no Aeroporto Internacional de Guarulhos às 05h15min e de imediato retiramos nossas bagagens do ônibus e nos dirigimos para o saguão de espera, em frente ao balcão das empresas aéreas.
Nosso vôo, de número 354 estava marcado para as 7h40min, porém segundo informações da Empresa Aérea Aeroflot,  esse estaria atrasado cerca de 30h, devido o pára-brisa do avião que nos levaria a Rússia ter quebrado e estava passando por manutenção na África(Cabo Verde).
Já que teríamos de esperar, nos acomodamos como deu, nos bancos e no chão do saguão, sendo que em seguida conhecemos dois russos que retornavam a seu país . Eles solicitaram, em inglês, que fizéssemos uma demonstração de nossas danças e músicas. O Everton, o Cezinha, o Rovani e o Digo desenvolveram alguns passos de chula e depois num gaitaço do Eduardo e do Rodrigão formou-se um baile, assistido também por algumas pessoas que também aguardavam o mesmo vôo pelos funcionários das empresas aéreas.
Tivemos de esperar no aeroporto até às 7h30min, momento em que a Aeroflot confirmaria o atraso. Logo após isso acontecer fomos tomar café, por conta da empresa aérea, em um luxuoso restaurante. Depois, retornamos ao saguão, e como já estava acontecendo desde a madrugada voltamos a jogar canastra, dormir, cantar  e passear pelo aeroporto, a fim de passar o tempo. Às 11h40min deixamos o aeroporto e fomos para o centro de São Paulo(12h20min), onde fomos hospedados no Bristol Hotel(quatro estrelas).

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Às 13h30min nos dirigimos ao restaurante do hotel para almoçar mas, apesar de ser apresentado um delicioso estrogonofe ficamos com fome porque só nos serviram um vez e depois recolheram os pratos. Todo mundo ficou a ver navios.
Retornamos aos apartamentos e tivemos de nos conformar com bolachinhas e chocolate, além de  dormimos a tarde toda.
Jantamos às 20h, e desta vez em um Bufe o cardápio era variado e satisfez  a todos. Em seguida alguns integrantes do grupo se juntaram a um pianista que se apresentava e cantaram algumas músicas. Outros foram jogar canastra e o restante voltou aos apartamentos.

 Dia 30.08.96 (sexta-feira)

Fomos acordados pela recepção a partir das 04h45min, para nos prepararmos para retornar ao aeroporto. Antes de sairmos, tomamos café da manhã e às 08h05min deixamos o Bristol Hotel.
Uma hora depois chegamos ao Aeroporto Internacional de Guarulhos e em seguida passamos a despachar nossas malas.
Às 10h35min fomos para a área internacional do aeroporto, e depois de entrarmos em uma loja de artigos importados nossa bagagem de mão foi passada pelo raios-X e nós pelo detector de metal(10h55min). Dali aguardamos nosso avião em uma sala próxima ao corredor de embarque.
Às 11h55min entramos no avião, e para nossa surpresa estava também o grupo grego que dançara em Passo Fundo e uma divertida turma de professores brasileiros de educação física que iriam para um curso em Moscou. Neste momento a maioria do nosso pessoal estava bastante nervoso e tenso.
O avião da Aeroflot começou a taxiar às 12h20min e às 12h50min decolamos.
Nesta pequena viagem São Paulo/Rio alguns colegas enjoaram e o vômito foi inevitável devido o excesso de turbulência e quedas no vácuo. Foi então que nos aproximamos mais do grupo de professores, pois foram muito atenciosos querendo sempre ajudar de alguma forma, principalmente com remédios estomacais.
Depois de um vôo horrível de 20 min, pousamos no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. Nos recompomos do episódio anterior e com nova tripulação deixamos o solo brasileiro às 15h. Iniciava ali a maior aventura de nossas vidas.
Nossa primeira refeição(almoço) no avião foi  servida às 17h(arroz, salada de cenoura e ervilha, bife ou frango acompanhado de refrigerante ou água mineral).
Nos acostumamos com a viagem e passamos a andar pelo avião, jogar cartas e nos entrosar com os demais passageiros.
Desta vez, após uma viagem tranqüila e sem enjôos, sendo possível até dar uma dormida, pousamos na África, mais precisamente na Ilha de Cabo Verde ou Ilha do Sal, às 21h30min. Lá não era usado o corredor de sanfona, que liga o avião a base do aeroporto, então tivemos de descer pela pista. Ao desembarcarmos nos deparamos com um calor de aproximadamente 30°C, o que nos surpreendeu àquela hora. Nos integramos mais ainda com o grupo de professores e tiramos várias fotos em um belíssimo painel pintado à mão em uma das paredes da área internacional do aeroporto.

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Felizmente o balconista da lanchonete falava português e assim foi mais fácil pedirmos refrigerante, mineral, etc..

CHEGADA NA RÚSSIA


Dia 31.08.96(sábado)

Retornamos ao avião, que após trocar a tripulação decolou da África às 00h05min. Nosso jantar foi servido às 02h.
Dormimos praticamente toda a viagem e ao despertarmos com um sol fortíssimo podemos nos deslumbrar com a vista área e com a paisagem terrena que clareavam entre as nuvens. Pousamos em Moscou às 8h(hora no Brasil), 15h horário local. Observação: a partir daqui passamos a nos guiar pelo horário russo, em um diferença de sete horas a mais em relação ao de Brasília.
Só podíamos desembarcar do avião quando um ônibus que transportava o pessoal, retornasse do prédio da área internacional, que eram longe de onde estávamos. Neste meio tempo se formavam filas do corredor até a porta da aeronave, e ficávamos sob o comando de um policial muito sério e até um pouco estúpido.
No aeroporto, demorou bastante até sermos todos liberados no balcão de conferência dos vistos e passaportes. Os que passavam já iriam retirando as malas dos colegas da esteira e colocando todas em um mesmo local.
Nosso intérprete Eugênio,  saíra para encontrar nossa guia e também demorou muito a retornar e a se comunicar conosco, pois uma vez que se sai da área internacional não pode retornar.
O cansaço atingia a todos mas a expectativa nos fortalecia e, para animar a gauchada o Antoni cantou algumas músicas.
Fora da área internacional(18h55min) fomos recebidos por uma senhora integrante do  CIOFF da Rússia. O Eugênio reuniu a todos em uma das saídas do aeroporto e comunicou que o festival que aconteceria em Izhevsk/Udmudia havia sido transferido para a República de Bashkortostan e nos deslocaríamos de trem para a capital Ufá por cerca de 31h de viagem. A referida república está localizada a sudoeste do país, distante 2 mil quilômetros de Moscou. Isso deixou todo mundo muito chateado e descontente mas tínhamos de enfrentar mais este desafio.
Ao sairmos do aeroporto ficamos um pouco perplexos, pois o movimento e a desorganização era muito grande devido o excesso para carros e ônibus ser estreito e tumultuado. 
Nos deslocamos do aeroporto (de ônibus) até o centro de Moscou. No percurso até a estação férrea tivemos a oportunidade de fazer um pequeno tur pelas ruas da capital dando ainda uma rápida passada pelo Kremlin, KGB e Teatro Bolshoi. A nossa guia, através do Eugênio ia nos falando um pouco sobre cada local que passávamos
Desembarcamos do ônibus em uma das cinco estações de Moscou, por volta das 21h15min. Neste momento integrou-se a delegação brasileira a Sra. Rosa(intérprete russo p/ inglês)e segundo ela teríamos de nos apressar porque nosso trem partiria em 25 min. Pegamos nossas malas, que não eram poucas, e corremos por cerca de duzentos metros até a plataforma de embarque.  Ao passarmos rapidamente por algumas galerias da Estação Férrea nos chocamos com a pobreza e a miséria das pessoas que lá se encontravam. Depois de nos instalarmos em cabinas com beliche para quatro pessoas teve início nossa viagem na hora marcada(21h40min). 
Praticamente todos ficaram em um dos vagões, somente duas cabinas estavam ocupadas e alguns dos peões tiveram de ir para outro vagão(Teco, Everton, Pedroso, Paulinho, Eugênio, Eduardo, Dair, Digo).  Fomos jantar no restaurante do trem às 23h. Foi servido salada de tomate, pepino e cebola, caviar, pão, arroz, um tipo de salsichão cozido e ovo cozido, como sobremesa chocolate russo. Tivemos de pedir para a Rosa falar com os responsáveis pelo restaurante para colocar as bebidas no gelo porque eles só tomam quente, tanto o refrigerante quanto a cerveja.
Logo depois fomos dormir, pois a canseira era enorme. Alguns ficaram conversando, cantando e se divertindo nas cabinas..
  
Dia 01.09.96(domingo)

Fomos acordados pelo Pedroso às 9h e comunicados que o café seria servido nas cabinas em poucos minutos. Uma das condutoras trouxe pão, salamito e chá, às 9h40min. Quase todos buscaram água quente que tinha em um aquecedor no corredor e fizeram café,  aproveitando ainda manteiga trazida do avião,  bolachinha, e colocamos leite moça(doadas pelo Vilkro) no café.
Paramos em uma cidade para embarque e desembarque de passageiros, e várias pessoas vendiam nas janelas do trem melão, maçam e peixe seco.
Às 16h05min passamos sobre o Rio Volga, em uma extensa ponte.
Fizemos uma parada  de 15 min na cidade de Samara(19h15min), e foi possível descermos para arejar, filmar e tirar algumas fotos.
Jantamos às 20h e depois fizemos um ensaio de nossas músicas populares(gaúchas) caso fosse necessário para desfiles e recepções.

 Dia 02.09.96(segunda-feira)

Na madrugada, por volta das 4h fomos acordados, pois em uma hora chegaríamos no nosso destino. Colocamos nossas malas no corredor do trem, foi uma agitação muito grande, misturada com expectativa e euforia. Chegamos na cidade de Ufá, República de Bashkortostan às 5h - 02h a mais do horário de Moscou - e fomos recepcionados por um casal tipicamente trajados que nos ofereceu pão e leite de égua (cerimônia que caracteriza um ritual de boas vindas). Sobre o pão caseiro, com formato de um bolo, estava um pote com sal e, ao aceitarmos a oferenda tínhamos de pegar um pedacinho do pão e passar no sal.
O leite, que realmente nada tinha a ver com nosso paladar, era bastante ruim, porém não poderíamos recusar, o que para eles é uma ofensa.
Logo após o desembarque nos encaminhamos de ônibus para o Porto Central de Ufá  onde embarcamos no navio “General Varridaf” - o nome é em homenagem a um dos mais importantes militares da república. Juntamente conosco embarcaram dois grupos de repúblicas da Rússia, dois China e um da Sibéria, e em outro barco ficaram os grupos da Iugoslávia, Dinamarca, Rússia(república).

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Nos maravilhamos com o navio e em seguida passamos a nos acomodar nas cabinas para duas pessoas, sendo umas mais espaçosas e outras um pouco apertada. Os quartos tinham duas camas ou beliches, mesa de cabaceira com abajur,  um armário, uma pia e  espelho.  
O quarto do patrão era o mais luxuoso, porque tinha geladeira, ar-condicionado e banheiro.
O navio dispunha também de duas salas, no corredor abaixo ao de nossos quartos, com três tanques para lavar roupa e uma tábua de passar, acompanhada de um ferro. Tinha também um auditório com uma antiga mesa de sinuca, um restaurante, uma sala de jogos e um bar.
Depois de acomodar nossas bagagens nos reunimos em um dos corredores externos do navio, porque além de fazer muito calor queríamos apreciar a paisagem e  conversar sobre o que para nós, até então, era novidade.
Conhecemos os primeiros artistas que nos acompanhavam no festival. Eram cinco garotos que faziam parte de um grupo russo: Uca, Iura, Coisia, Genia e Andrei.
Às 5h45min começamos a navegar sobre o Rica Bille(Rio Branco) e em poucos minutos atracamos em outro porto da capital próximo ao local onde, no dia seguinte, seria a abertura do festival.
Às 12h fomos levados ao restaurante do navio onde faríamos todas as nossas refeições. Segundo nossa intérprete os lugares que sentássemos naquele dia deveria ser para a viagem toda.

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Em nossa primeira refeição foi servido arroz, almôndega, salada de beterraba, pepino, sopa, pão e chá gelado com limão.
Às l6h30min todos os grupos se dirigiram para a Filarmônica de Ufá - o  segundo teatro mais tradicional do país - no centro da cidade, onde realizamos um ensaio para o início dos espetáculos, que aconteceria na noite seguinte. Neste momento nos deslumbramos com a arquitetura interna do prédio, parecia coisa de cinema. Com certeza a primeira impressão dos locais que iríamos nos apresentar mexeu com o ego de vários integrantes do grupo.
Nosso primeiro ensaio não foi bom, porque não estávamos acostumados com o palco, apesar de ele ser espaçoso. Outro probleminha foi falta de experiência para esse tipo de apresentação com o público somente a nossa frente. O grupo não teve explosão na primeira passagem de palco, acho que era puro nervosismo, o que deixou o Pedro um pouco irritado.
Retornamos ao navio por  volta das 18h e depois de cevarmos um chimarrão fomos dançar e cantar no corredor da proa. Alguns improvisaram até alguns passos de aeróbia  com músicas que tocavam no sistema interno de som, que por sinal ficava ligado o dia todo.
Depois de jantarmos - 20h30min - tivemos uma reunião no auditório que ficava no corredor inferior do navio. Neste encontro onde discutimos alguns problemas e cada um colocou o que estávamos sentindo a respeito da viagem, ficou claro  que a turma estava disposta a dar o melhor de si, causando até mesmo emoção e lágrimas em alguns.
Às 22h teve início um baile na proa,  momento em que nos divertimos muito e tivemos a oportunidade de nos entrosar com chineses e russos. A festa foi até altas horas, repetindo-se em todas as noites.

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INÍCIO DO FESTIVAL

Dia 03.09.96(terça-feira)

Pela manhã fomos acordados para tomar café que era das 07h30min às 8h30min e após começamos a organizar nossas pilchas. Era bonito ver cada um se virando sozinho, com algumas exceções é claro.
Às 10h os peões foram para a plataforma do porto e realizaram um ensaio de chula que foi assistido por alguns integrantes de outros grupos.
Almoçamos e em seguida nos preparamos para a abertura do IV Festival Sudstrevo de Bashkortostan no Monumento da Paz .
Antes de irmos para o local da solenidade, ainda no ancoradouro, paramos para tirar fotos com os outros grupos
Com muito orgulho, emoção e euforia carregávamos as bandeiras do Brasil (patroa Liane), do Rio Grande do Sul (Pedroso), de Santa Cruz do Sul (patrão Altair), da UNISC(Valmor) e do Terra de Bravos CTG(Eduardo).
O última delegação a ser chamada foi a do Brasil, talvez por sermos o grupo de mais longe e para eles o mais exótico.
Logo após a solenidade onde aconteceram discursos e apresentações artísticas de grupos locais, retornamos a Filarmônica de Ufá para a última passagem de palco.
Depois de assistir nossas danças o diretor de palco, que era muito exigente fez vários elogios da qualidade técnica de nossos artistas e a partir dali fomos designados a fazer todos os encerramentos dos espetáculos. Neste ensaio o grupo começou a mostrar porque estava lá, e os elogios do diretor de palco nos deram mais vida e força.
Retornamos ao navio trocamos de indumentária e às 19h teve início às apresentações artísticas do festival.
         Durante o pronunciamento de autoridades a senhora Lilian - diretora do festival - passou a anunciar os grupos presentes e chamar seus representantes e coreógrafos para lugares reservados. Do Brasil foram a Abegail e o Pedroso.
Em seguida um grupo profissional russo realizou um show com danças de seu folclore, no que destacamos a perfeição de movimentos e a harmonia que traziam consigo. Sentados na platéia acompanhamos a apresentação de três grupos e um coral de repúblicas da Rússia, dois da China, um da Dinamarca, um da Iugoslávia, um coral de Ufá , que por sinal muito bem executadas.
         Ao sermos chamados para os bastidores muitos estavam nervosos mas a verdade é que queríamos arrebentar. E não deu outra, depois de apresentarmos as danças: Eu Vim aqui pra Dança(entrada), o Tatu de Castanholas, a Chula e o Baile da Saudade(saída) o público nos aplaudiu de pé. Durante a saída, no palco e nos corredores do teatro os demais grupos se integraram a nós, valseando e contagiando o público. Nos emocionamos muito com tudo aquilo e no rosto de alguns colegas as lágrimas de emoção e alegria foram inevitáveis.
Após o encerramento fomos solicitados a dar vários autógrafos, posar para fotos, etc.., além de ganharmos presentes e flores.
Mais tarde retornamos ao navio e seguimos viagem (22h) durante a noite até a próxima cidade que participara do evento. Pouco antes os coreógrafos e dirigentes retornaram de uma recepção e segundo a Abigail e o Pedroso os organizadores estavam maravilhados com o grupo, e o Pedro também nos passou, muito emocionado a sua satisfação pelo que apresentamos. Isso serviu para nos empolgar mais ainda, e a festa continuou com os demais grupos até altas horas, regada à vodka.

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Dia 04.09.96(quarta-feira)

Já estávamos a uma semana fora de casa e o CIOFF ainda não havia conseguido uma liberação do governo para que mantivéssemos contato com o Brasil. Foi ai que o patrão Altair interviu e ameaçou os organizadores do festival, afirmando que não subiríamos mais em nenhum palco enquanto não mandássemos notícias a nossos familiares. Felizmente a ameaça deu certo e na parte da tarde o Tio Teco falou com o Paulo Malh(pai da Sandra).
Também neste dia o gaiteiro Eduardo Ely comemorava, longe de casa, seu vigésimo aniversário.
Às 9h nos reunimos com os demais grupos em um dos corredores laterais do navio e realizarmos uma alegre e divertida confraternização com muita dança bem ao estilo gaúcho. Nos surpreendemos com nossos colegas artistas, que com facilidade aprenderam nossas danças, bugio, vaneira, chamamé... Os chineses solicitaram que ensinássemos o Tatu de Castanholas, o que alguns captaram com facilidade. A partir daí nos afeiçoamos muito com o grupo chinês e alguns passaram a nos acompanhar diariamente, principalmente o amigo Chan Lin.
De nossa parte (peões) tivemos aulas de sapateio com as meninas do grupo mirim da Rússia.
Às 10h atracamos no porto da cidade de Birsk e na barranca do rio uma multidão de aproximadamente 2 mil pessoas nos aguardava. Os grupos, com suas indumentárias exóticas, desembarcaram do navio e eram recepcionados com um tapete vermelho. Com nossas bandeiras carregadas pela Tia Teca(Brasil), Tio Teco(RGS), Andréa(Santa Cruz), Valmor(UNISC) e Zoraira(Terra de Bravos), saudamos com acenos de lenço o povo que nos recebia, e naturalmente éramos os mais animados.
Depois de uma rápida e luxuosa solenidade tipicamente russa deixamos o porto, e ao passarmos pelas pessoas recebíamos carinhosamente flores e cumprimentos de boas vindas.
Nos dirigimos para a praça central do município, que para nossa surpresa éramos esperados por mais de 10 mil pessoas. Os grupos realizaram suas apresentações em um palco semelhante a uma concha acústica, sendo que o Brasil ao ser chamado foi saudado calorosamente, pois, segundo sua história Birsk teve na Revolução de 1917 dois aliados brasileiros, por isso éramos vistos com muito apreço.
Outro motivo também é porque há dois anos um dos canais de TV apresenta em sua programação novelas brasileiras como Tropicalhente, Mulheres de Areia e Escrava Isaura e segundo o guia local que nos foi designado, 100% da população deixa de qualquer coisa para não perder um só capítulo.
Durante a apresentação os aplausos e gritos da platéia era constante e após a saída descemos até o público e o lencinho que cada dançarino carregava consigo, onde estava pintado a bandeira do Brasil e o nome do CTG, foi entregue a um birskiano. 
Neste dia a quantidade de solicitações de autógrafos foi intensamente superior às outras cidades, nos cativando de forma surpreendente. Com o assédio, principalmente de mulheres, era muito grande, nosso ônibus foi cercado e tivemos dificuldade para entrar e o motorista para nos conduzir de volta, foi necessário intervenção da polícia. 

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No início da tarde iniciamos um passeio turístico conduzidos pelo nosso guia  passando primeiramente por uma antiga basílica em estilo czarista, e enquanto admirávamos sua beleza interna um coral cantava músicas religiosas.
Às 17h30min fomos recepcionados em uma escola de música para crianças. Lá realizamos uma pequena apresentação e em nossa homenagem alguns alunos daquela instituição demonstraram seus dotes musicais. Para nossa alegria, seis de seus instrutores, com seus acordeões de botão, executaram um chorinho brasileiro  “Tico-Tico”.
Por estar de aniversário o Eduardo recebeu uma homenagem e ganhou alguns presentes.
Às 18h30min fomos conhecer a Birsk Liqueur - Vodka Distillery,  fábrica de vódka que é uma das mais tradicionais da república. Degustamos também um coquetel com caviar, salamito, frutas,  doces, chocolates, acompanhado de vários brindes. Um destes brinde foi para o Eduardo que recebeu mais uma homenagem. Cada um ganhou uma garrafa desta bebida que é a mais tradicional do país. Também retribuímos a direção e funcionários com uma pequena demonstração de nossas danças no pátio da fábrica.
Às 19h retornamos ao navio e mais uma vez fomos assediados por cerca de duas mil pessoas que lá nos aguardavam para se despedir. Desta vez além de autógrafos aconteceram beijos, abraços, arranhões e lágrimas.
Às 19h35min desatracamos do porto de Birsk e seguimos viagem em direção à próxima cidade.
Durante o jantar, com pire de batata, peixe cru, pão, pepino, salada de tomate e chá, o Eduardo recebeu outra homenagem sendo brindado com flores, champaigne, dois bolos de maçã, que teve de cortar e servir a todos que estavam no restaurante, e um bandeja com maças, que comemos o resto da viagem. Foi visível a sua emoção com os olhos cheios de lágrimas, no momento em que todos cantaram o parabéns a você em inglês.
No cair da noite, as meninas do grupo chinês trocaram de indumentária com a Cilene e Cláudia, seguidas mais tarde pelo Digo e pelo Rovani.
E na madrugada a festa voltou a se repetir.

Dia 05.09.96(quinta-feira)

Às 10h30min chegamos na cidade de Diurtiuli e fomos recepcionados no monumento em homenagem aos soldados que partiram para as diversas guerras que aconteceram naquela região. Autoridades municipais e culturais proferiram seus discursos de boas vindas - uma pena que não conseguíamos entender nada - e os grupos locais  realizaram algumas apresentações artísticas.
Tanto na solenidade quanto nos demais lugares que visitamos tivemos de passar pelo ritual de boas vindas, tomando leite de égua e comendo pão com sal, às vezes variava e era uma espécie de bolo doce.
Às 11h30min visitamos um museu que é a réplica da casa de um famoso poeta de Bashkortostan.
Das 11h45min conhecemos um Palácios da Cultura de Diurtiuli , que além de uma vasta biblioteca possui um museu que conta a vida de Lenin e outro com animais empalhados.       
Em outro Palácio de Cultura os brasileiros foram convidados a apresentamos algumas danças para a direção e funcionários.

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